O rapper Sean “Diddy” Combs, 55, parecia viver como um verdadeiro “chefão”, como mencionado em seu sucesso de 1997 “It’s All About the Benjamins”, até sua prisão em setembro.
Na época, os advogados do empresário e magnata da música disseram à CNN que estavam negociando sua rendição voluntária antes de ele ser detido por agentes do Departamento de Segurança Interna dos EUA.
Entre as evidências encontradas no Park Hyatt Hotel, em Manhattan, onde Combs havia se hospedado dias antes, investigadores encontraram sacos de lubrificante, US$ 9.000 (cerca de R$ 51 mil) em dinheiro, um frasco de clonazepam e dois pequenos pacotes com pó rosa.
Segundo leitura feita em tribunal durante o julgamento criminal por tráfico sexual, os conteúdos dos pacotes deram positivo para MDMA, popularmente conhecido como ecstasy, e cetamina.
Combs, que se declarou inocente das acusações de conspiração para formação de quadrilha, tráfico sexual e transporte com fins de prostituição, provavelmente preferiria que o mundo não soubesse de seu passado ligado ao uso de drogas, especialmente considerando suas conquistas nos negócios e na cultura.
Afinal, ele afirmou publicamente ter evitado o mesmo destino de seu pai, Melvin Combs, supostamente um traficante de substâncias, assassinado a tiros quando Sean ainda era criança. No entanto, o julgamento em andamento expôs alegações de que as drogas teriam feito parte do passado de Combs tanto quanto seu sucesso profissional.
Opiáceos e ecstasy
“O réu usava seus funcionários para obter e distribuir drogas. Eles entregavam essas drogas sempre que ele pedia — inclusive para que ele as desse às mulheres que forçava a ter relações sexuais com acompanhantes masculinos”, disse a promotora Emily Johnson em sua declaração de abertura no mês passado.
A equipe de defesa de Combs reconheceu seu uso de substâncias e comportamento violento no passado, mas sustenta que isso não tem relação com as acusações criminais.
“Estamos dizendo agora que ele é agressivo, que usa drogas e que tinha uma vida sexual um pouco diferente”, declarou a advogada Teny Geragos em sua fala inicial. “Isso é crime federal? Não. Vocês ouvirão que ele recebia soroterapia após o uso de ilícitos. Isso é crime federal? Não. Ele será responsável e prestará contas pelas coisas que fez. Mas lutaremos pela sua liberdade nas próximas oito semanas pelo que ele não fez.”
Uma das estratégias da defesa parece ser sugerir que o comportamento de Combs foi influenciado pelo uso de drogas e por ciúmes. Eles questionaram sua ex-namorada Cassie Ventura — que testemunhou sobre seu próprio histórico de abuso de substâncias — sobre sinais de abstinência que ela possa ter percebido em Combs durante o relacionamento.
“Parecia injusto ele ser tão duro com você, quando ele mesmo era um viciado em drogas em estágio avançado, certo?”, perguntou a advogada Anna Estevao durante o contra-interrogatório.
“Sim, pode-se dizer que sim”, respondeu Ventura. Quando questionada se acreditava que Combs era viciado, ela disse: “Eu diria que sim”, antes de ser perguntada sobre qual substância ele era dependente.
“Sucesso”, respondeu Ventura com ironia, acrescentando depois que acreditava que ele foi viciado em várias substâncias ao longo dos anos.
“Ele era viciado em opiáceos?”, perguntou Estevao.
“Em certo momento, sim”, respondeu Ventura.
“Como você sabe que ele era viciado em opiáceos?”, continuou a advogada.
“Porque ele me disse”, disse Ventura. Ela testemunhou que Combs teve uma overdose de analgésicos em fevereiro de 2012.
David James, ex-assistente pessoal de Combs, também testemunhou que frequentemente o via consumir opiáceos durante o dia e ecstasy à noite — incluindo uma pílula uma vez moldada com o rosto do ex-presidente Barack Obama. Em algumas ocasiões, James afirmou ter conseguido drogas para Combs e seus amigos.
Dr. Drew Pinsky, especialista em dependência química, que recentemente participou do documentário Hollywood Demons, da Max, afirmou à CNN: “Uma pessoa pode usar muitas drogas e não ser um dependente químico. ‘Viciado’ é uma condição progressiva e muito específica”, explicou. Pinsky não conhece nem tratou Combs.
Em um vídeo compartilhado nas redes sociais por Combs em maio de 2024, ele disse: “Procurei ajuda profissional. Comecei a fazer terapia, fui para a reabilitação.” Ele não especificou o motivo da busca por ajuda, embora a postagem tenha sido feita dias após a CNN divulgar um vídeo de 2016 que mostra Combs agredindo fisicamente Cassie Ventura em um hotel.
Pinsky, que teve contato com celebridades e o abuso de substâncias através do reality Celebrity Rehab with Dr. Drew (2008–2011), afirmou: “Não há nada de especial sobre celebridades em relação ao vício, exceto que o vício pode se agravar mais do que em pessoas comuns, já que não há um chefe ou emprego regular para segurá-las”.
Ou seja, os ricos e famosos têm menos freios e contrapesos, uma vez que não precisam responder às mesmas responsabilidades do cotidiano ou têm pessoas ao redor com autoridade suficiente para levá-los ao tratamento.
“Por isso, a doença avança mais”, disse Pinsky. “E pode parecer ainda mais escandalosa.”
O público, segundo ele, muitas vezes desenvolve “uma visão ingênua” sobre como são realmente essas figuras de proporções maiores que a vida.
“Sempre me perguntam: ‘O que há de errado com essa pessoa?’”, acrescentou. “Como se houvesse um manual à parte para celebridades.”
“Não há. Elas são como qualquer um — só que, em geral, estão em um estado ainda pior”, concluiu Pinsky.
O julgamento de Combs deve continuar por mais algumas semanas.
Vídeo flagra rapper Sean “Diddy” Combs agredindo mulher
Fonte: CNN Brasil https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/de-calmantes-a-ecstasy-julgamento-de-diddy-revela-cultura-das-drogas/